Apenas lembre-se

Ei, você. Você que partiu sem olhar para trás, que a vida afastou, que se foi e não há como voltar. Você que ficou em alguma das tantas esquinas, que foi vítima das circunstâncias ou protagonista da própria vontade. Você que não me vê há anos, há meses, você que nunca mais me verá. Ou que me vê todos os dias, mas ambos sabemos que algo se quebrou. Você, um estranho que talvez me conheça um pouco bem. Eu não peço muito. Eu só peço que se lembre. Lembre-se de como é o som da minha voz, das piadas bobas que eu fazia. De uma das minhas manias ou de que eu gostava de determinada banda. Lembre-se do meu sorriso e de como você me provocava por certas coisas. Lembre-se de que eu tinha um animal de estimação, ou que tivemos, entre nós, um apelido, quem sabe. De algum plano maluco que fizemos ou dos possíveis segredos sussurrados. Lembre-se das minhas obcessões passageiras ou do meu entusiasmo com as coisas pequenas, como datas, por exemplo.

Não precisa se lembrar nem da metade, muito menos ficar pensando sobre quaisquer recordações fugazes. Apenas lembre, às vezes. de passagem, mesmo que somente durante breves instantes de pensamentos aleatórios. Lembre-se daquela nossa conversa marcante, bem séria. Ou do meu raro desabafo, ou ainda de quando eu ouvia você e tentava ajudar. Lembre-se, talvez, de algo que eu tenha dito, ou de um momento em particular que eu nunca saberei que foi significativo para você. Lembre-se de quando cantamos, de quando choramos, de quando contamos histórias longas e loucas. Lembre-se de como eu mexia no cabelo ou das nossas bagunças e papos no telefone que duravam horas. Lembre-se daquela vez, ou daquela outra. Da nossa caminhada, do jogo que jogávamos ou das madrugadas frias e tardes ensolaradas. Lembre-se de nada específico, mas lembre-se.

Não precisa me procurar para conversar, concertar, nem para contar que pensou em mim e sentiu nostalgia. O que eu peço é simples. Só, lembre-se. Por favor, lembre-se. De qualquer detalhe, de qualquer minúcia insignificante, ou do sentimento, da cumplicidade, qualquer coisa que tivemos. Recorde como fomos íntimos e uma das tantas coisas que fizemos. Não me esqueça, nesses milhares de voltas que o universo dá. Me mantenha no fundo de algum baú trancado, mas me mantenha com você, do jeito que for. Lembre-se. Lembre-se de mim. Lembre-se de nós. Porque eu lembro de você. Sempre. De vocês, de todos vocês. Que chegaram, me transformaram, e por mais que tenham partido, permanecem aqui.

4 comentários sobre “Apenas lembre-se

  1. Confesso que li com um nó na garganta e isso é desesperador.
    A gente vive, ri, ama, chora, briga, conversa, passeia e a gente se afasta.

    E depois é como qualquer estranho na rua, sem laço e sem nome.

    Me pergunto se os meus afastados lembram de mim como eu lembro deles.

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